Leia a entrevista publicada na CartaCapital
CartaCapital: Por que você decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso?
Amaury Ribeiro Jr.: Em 2000, quando eu era repórter de O Globo, tomei gosto pelo tema. Antes, minha área da atuação era a de reportagens sobre direitos humanos e crimes da ditadura militar. Mas, no início do século, começaram a estourar os escândalos a envolver Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro de campanha do PSDB e ex-diretor do Banco do Brasil). Então, comecei a investigar essa coisa de lavagem de dinheiro. Nunca mais abandonei esse tema. Minha vida profissional passou a ser sinônimo disso.
CC: Quem lhe pediu para investigar o envolvimento de José Serra nesse esquema de lavagem de dinheiro?
ARJ: Quando comecei, não tinha esse foco. Em 2007, depois de ter sido baleado em Brasília, voltei a trabalhar em Belo Horizonte, como repórter do Estado de Minas. Então, me pediram para investigar como Serra estava colocando espiões para bisbilhotar Aécio Neves, que era o governador do estado. Era uma informação que vinha de cima, do governo de Minas. Hoje, sabemos que isso era feito por uma empresa (a Fence, contratada por Serra), conforme eu explico no livro, que traz documentação mostrando que foi usado dinheiro público para isso.
CC: Ficou surpreso com o resultado da investigação?
ARJ: A apuração demonstrou aquilo que todo mundo sempre soube que Serra fazia. Na verdade, são duas coisas que o PSDB sempre fez: investigação dos adversários e esquemas de contrainformação. Isso ficou bem evidenciado em muitas ocasiões, como no caso da Lunus (que derrubou a candidatura de Roseana Sarney, então do PFL, em 2002) e o núcleo de inteligência da Anvisa (montado por Serra no Ministério da Saúde), com os personagens de sempre, Marcelo Itagiba (ex-delegado da PF e ex-deputado federal tucano) à frente. Uma coisa que não está no livro é que esse mesmo pessoal trabalhou na campanha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, mas sob o comando de um jornalista de Brasília, Mino Pedrosa. Era uma turma que tinha também Dadá (Idalísio dos Santos, araponga da Aeronáutica) e Onézimo Souza (ex-delegado da PF).
CC: O que você foi fazer na campanha de Dilma Rousseff, em 2010?
ARJ: Um amigo, o jornalista Luiz Lanzetta, era o responsável pela assessoria de imprensa da campanha da Dilma. Ele me chamou porque estava preocupado com o vazamento geral de informações na casa onde se discutia a estratégia de campanha do PT, no Lago Sul de Brasília. Parecia claro que o pessoal do PSDB havia colocado gente para roubar informações. Mesmo em reuniões onde só estavam duas ou três pessoas, tudo aparecia na mídia no dia seguinte. Era uma situação totalmente complicada.
CC: Você foi chamado para acabar com os vazamentos?
ARJ: Eu fui chamado para dar uma orientação sobre o que fazer, intermediar um contrato com gente capaz de resolver o problema, o que acabou não acontecendo. Eu busquei ajuda com o Dadá, que me trouxe, em seguida, o ex-delegado Onézimo Souza. Não tinha nada de grampear ou investigar a vida de outros candidatos. Esse “núcleo de inteligência” que até Prêmio Esso deu nunca existiu, é uma mentira deliberada. Houve uma única reunião para se discutir o assunto, no restaurante Fritz (na Asa Sul de Brasília), mas logo depois eu percebi que tinha caído numa armadilha.
CC: Mas o que, exatamente, vocês pensavam em fazer com relação aos vazamentos?
ARJ: Havia dentro do grupo de Serra um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que tinha se desentendido com Marcelo Itagiba. O nome dele é Luiz Fernando Barcellos, conhecido na comunidade de informações como “agente Jardim”. A gente pensou em usá-lo como infiltrado, dentro do esquema de Serra, para chegar a quem, na campanha de Dilma, estava vazando informações. Mas essa ideia nunca foi posta em prática.
CC: Você é o responsável pela quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Verônica, na agência da Receita Federal de Mauá?
ARJ: Aquilo foi uma armação, pagaram para um despachante para me incriminar. Não conheço ninguém em Mauá, nunca estive lá. Aquilo faz parte do conhecido esquema de contrainformação, uma especialidade do PSDB.
CC: E por que o PSDB teria interesse em incriminá-lo?
ARJ: Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o apoiavam. Entrou em pânico. Aí partiram para cima de mim, primeiro com a história de Eduardo Jorge Caldeira (vice-presidente do PSDB), depois, da filha do Serra, o que é uma piada, porque ela já estava incriminada, justamente por crime de quebra de sigilo. Eu acho, inclusive, que Eduardo Jorge estimulou essa coisa porque, no fundo, queria apavorar Serra. Ele nunca perdoou Serra por ter sido colocado de lado na campanha de 2010.
CC: Mas o fato é que José Serra conseguiu que sua matéria não fosse publicada no Estado de Minas.
ARJ: É verdade, a matéria não saiu. Ele ligou para o próprio Aécio para intervir no Estado de Minas e, de quebra, conseguiu um convite para ir à festa de 80 anos do jornal. Nenhuma novidade, porque todo mundo sabe que Serra tem mania de interferir em redações, que é um cara vingativo.
fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/a-%E2%80%9Cprivataria-tucana%E2%80%9D-de-amaury-ribeiro-jr-chega-as-bancas-cartacapital-relata-o-que-ha-no-livro/
Vou registrar aqui, para o caso de a página ser deletada:
A Privataria Tucana é um livro resultado de anos de investigações do repórter Amaury Ribeiro Jr. na senda da chamada Era das Privatizações, promovida pelo governo Fernando Henrique Cardoso, por intermédio de seu ministro do Planejamento, ex-governador deSão Paulo, José Serra. A expressão “privataria”, cunhada pelo jornalista Elio Gaspari e utilizada por Ribeiro Jr., faz um resumo do que foi para ele a verdadeira pirataria praticada com o dinheiro público em benefício de fortunas privadas, por meio das chamadas “offshores”, empresas de fachada no Caribe, onde vários países são considerados Paraísos Fiscais.
O Livro iria inicialmente se chamar "No Porões da Privataria", e chegou-se a cogitar o nome "Os Privatas do Caribe", em alusão aos paraísos fiscais no Caribe, mas logo desistiu-se do segundo nome, para evitar confusão com o filme "Piratas do Caribe". Por fim decidiu-se pelo nome atual. Do total de 344 páginas, 112 dessas se referem somente à ampla documentação recolhida no Brasil e EUA, originária daCPI do Banestado, em juntas comerciais e em paraísos fiscais, que embasam as acusações feitas pelo autor. O livro, dividido em 16 capítulos, mostra como nos bastidores adversários políticos do mesmo partido praticaram guerras de espionagem e contra-espionagem entre si, tanto no PSDB (no caso, entre José Serra e Aécio Neves) como no PT (entre Fernando Pimentel e Rui Falcão).
O livro, “A Privataria Tucana”, revela o modus operandi de um escândalo de corrupção envolvendo o governo federal, grandes corporações financeiras e a imprensa com a prática de crimes de corrupção ativa e passiva, favorecimento ilegal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e invasão de privacidade, associado a desvio de dezenas de bilhões dos cofres públicos.[1]
O livro ainda mostra como Serra usa serviços de arapongas, pagos com dinheiro público, para criar dossiês contra adversários políticos desde o seu período à frente do Ministério da Saúde, e como sua filha e a irmã do Daniel Dantas quebraram o sigilo de approximadamente 60 milhões de brasileiros pela obtenção de informações privilegiadas dentro do governo. [2]. O grupo de Serra faria grande uso da tática da Contra-inteligência, isto é, manobras diversionistas, antecipação e esvaziamento de possíveis denúncias, vitimização perante a opinião pública.[3]
O livro mostra também com ampla documentação como funcionava o esquema propinas e de lavagem de dinheiro através do envio do dinheiro para empresas off-shores no paraíso fiscal nas Ilhas Virgens, e reenvio deste dinheiro ao Brasil como "investimento estrangeiro". O esquema envolvia nomes como Ricardo Sérgio de Oliveira (então tesoureiro do PSDB, descrito por Amaury na pag.38 como "o chefe da lavanderia do tucanato"), Carlos Jereissati, José Serra, sua filha, Verônica Serra e o marido desta, Alexandre Bourgeois, bem como empresas como aOi (na época Telemar), IConexia, Citco Building, Andover, Westschester, Decidir.com, Inc da Filha de Serra em sociedade com Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, dentre outros. Para se ter uma idéia do montante de dinheiro nestas transições, entre 1998 e 2002, Gregório Preciado, marido de uma prima de José Serra depositou 2,5 bilhões de dólares na conta de Ricardo Sérgio de Oliveira[4]. Este modus operandi de lavagem de dinheiro também foi utilizado por Paulo Maluf, Ricardo Teixeira[5], e Paulo Henrique Cardoso[6], filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
[editar]Repercussão e comentário inicial
O jornalista Luiz Nassif classificou a obra como "A reportagem investigativa da década".[7] Os jornalistas Luiz Carlos Azenha e Luis Fausto afirmaram que os 15 mil exemplares da 1ª edição foram esgotados no primeiro dia.[8][9]. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a cancelar um evento de autógrafos de seu novo livro de memórias [10]. Como medida de comparação, o livro de não-ficção mais vendido no Brasil em 2011, "O guia politicamente incorreto da história do Brasil", lançado em 2009 pelo jornalista Leandro Narloch, vendeu 71 mil cópias em todo o ano segundo o site Publish News.[11]
A grande imprensa brasileira não tomou conhecimento da repercussão desse livro.[12]
Referências
- ↑ Aécio foge de polêmica com livro e Ciro Gomes publicado em 9 de Dezembro de 2011 por Rafael Rodrigues no Jornal Bahia Noticias[[1]]
- ↑ Chega às livrarias ‘A Privataria tucana’, de Amaury Ribeiro Jr. CartaCapital relata o que há no livro publicado no dia 12 de Dezembro de 2011 na Revista Carta Capital [[2]]
- ↑ http://www.viomundo.com.br/denuncias/privataria-tucana-livro-de-amaury-ribeiro-jr-explica-poder-de-serra.html
- ↑ Carta Capital,14 de Dezembro de 2011. nº 676, ano XVII, p.70-81
- ↑ http://www.viomundo.com.br/denuncias/a-bomba-que-vai-estourar-no-colo-de-teixeira.html
- ↑ http://www.tijolaco.com/do-paraiso-fiscal-ao-paraiso-sp-a-conexao-citco-phc/
- ↑ "A reportagem investigativa da década" [[3]]
- ↑ "Emediato: Esgotada primeira edição de Privataria Tucana" [[4]]
- ↑ "Livro sobre privataria tucana está esgotado" [[5]]
- ↑ "Privataria tucana cancela lançamento do livro de memórias de FHC" [[6]]
- ↑ "Lista de mais vendidos de 2011 | Em aberto" consultado em 12/12/2011 [[7]]
- ↑ Cerra e PiG fazem o pacto da mortepublicado pelo jornal Correio do Brasil - Número 4363 [[8]]
FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Privataria_Tucana - Acesso em 13/12/2011 às 10h53min.
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