sexta-feira, 1 de abril de 2011

"O princípio poético" (para resenhar)

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POE, E. A. "O princípio poético". In.: Poemas e ensaios. Tradução: Oscar Mendes e Milton Amado. Revisão e notas: Carmen Vera Cirne Lima. 2 ed. Rio de janeiro: Globo, 1987. Páginas 83 – 107.
O princípio poético de Poe opera com uma relação entre a extensão da obra pretendida e a reação provocada no leitor. Para Poe há os poemas de primeira e segunda categoria e essa definição se dá pela extensão da obra. Na opinião dele não existe um poema longo, já que o mesmo, ao ser lido, será na verdade vários pequenos poemas com mais ou menos emoção. E só se trata de poema quando provoca uma emoção exaltante: "o valor do poema está na razão desta emoção exaltante" (1987; 83). Para tanto, uma obra poética deve ser planejada e articulada sistematicamente, isto é, cada elemento deve ser escolhido objetivando o efeito pretendido. E está foi a medida adotada por Poe ao compor "O Corvo" e explicita na "Filosofia da composição". De início, Poe recomenda que o texto tenha início no final, pois "só tendo o epílogo constantemente em vista poderemos dar a um enredo seu aspecto indispensável de conseqüência, ou causalidade...", declarou sobre a confecção do poema. O artista, então, como um estrategista poético deve armar o texto de modo a despertar no leitor o efeito almejado. Um efeito lapidado pelo sentimento poético, marcado pela indefinição e pelo prazer. Tal como no poema, Poe pressupõe para o conto, para a prosa de narrativa curta, a "unidade de efeito ou impressão", causando um estado de excitação, conseqüentemente, a dosagem do tempo deve ser prevista. Um conto deve então ser lido de uma sentada, caso contrário a unidade e a exaltação se perdem, implicando a descaracterização do texto como tal.
No caso dos poemas utilizados por Poe para o ensaio "O princípio poético" e ao
ter em mente Paraíso Perdido, Poe expõe: "essa grande obra, na verdade, deve ser tida como poética, somente quando, não levando em conta aquele requisito vital de todas as obras de Arte, a Unidade, nós a encaramos, simplesmente, como uma série de poemas menores" (1987; 84). No entanto, a questão da extensão tem um outro lado. O poema menor "pode ser impropriadamente curto" (1987; 85). E o poeta, ao proferir sobre o poema bem curto, afirma que o mesmo "nunca produz um efeito profundo ou duradouro" (1987; 85). Porém, ao pensar nos haicai, há alguns que vão contra essa assertiva de Poe. Claro que o autor usa como base para suas afirmações poemas ingleses e americanos, no entanto, há sim outros poemas menores (em extensão) que são capazes de produzir um efeito tão profundo e duradouro quanto um poema em extensão maior. Ainda mais quando o poema maior exige do leitor um maior número de pausa e, conseqüentemente permite outras reflexões.
Poe ainda defende que todo poema "deveria inculcar uma moral, e por esta moral é que deve ser julgado o mérito poético do trabalho" (1987; 87). Mas, em contraposição, afirma: "escrever simplesmente um poema pelo poema é confessar que tal foi o nosso desígnio seria confessar-nos radicalmente carentes da verdadeira dignidade e força poéticas" (1987; 87). No entanto, a respeito de "O corvo", o que se tem na confissão de Poe é um poema pelo poema, um poema pelo simples fato de que escrito por ele mesmo inculcaria os efeitos desejados pelo autor. Ou seja, todo o trabalho do artista seria comprovado.
O ensaio de Poe expõe a mesma concepção de Baudelaire sobre a artificialidade da Beleza. Para ele a beleza que a natureza tem, tem que ser artificializada e ela é mais importante que o dever e a verdade. Para Poe só a beleza ultrapassa a morte, "a Beleza é o domínio do poema, simplesmente porque é regra evidente de Arte que os efeitos deveriam jorrar, tão discretamente quanto possível, de suas causas" (1987; 90). E é a sujeição à Beleza que proporciona a essência do poema.
Poe dá seqüência ao ensaio analisando alguns poemas e dialogando com algumas criticas que não permitiram a ascensão de poemas que a mereciam. Também afirma não estar "certo de que os reais limites do dever de criticar não sejam grosseiramente confundidos" (1987; 96). E encerra o ensaio com a falsa modéstia:
Assim, embora de maneira bem superficial e imperfeita, tentei transmitir-vos minha concepção do Princípio Poético. [...] a manifestação do Princípio é sempre encontrada em uma exaltante emoção da alma, completamente independente daquela paixão que é a embriaguez do Coração, ou daquela verdade que é a satisfação da Razão (POE: 1987; 105).
Neste sentido, dá-se por terminada a resenha com a embriaguez permitida pelos versos: "Tudo isso lhes traria ao peito enternecido / o pensamento do que havia sido" (1987; 93).



P.S.: resenha para uma das disciplinas feitas em 2005.
Cleiry de Oliveira Carvalho

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