Recebi pelo Correio, esses dias, um envelope com um bilhete dentro (tudo bem que o autor desse bilhete grafou o meu nome umas quatro vezes, sendo três delas de maneira errada!), além do bilhete,
um papel em forma de régua.
Todo mundo sabe alguma coisa sobre régua... por exemplo, que: régua é um instrumento utilizado em geometria, próprio para traçar segmentos de reta e medir distâncias pequenas. Também é incorporada no desenho técnico, engenharia. É feita de madeira, plástico ou metal e pode conter uma escala, geralmente centimétrica e milimétrica; é um instrumento sólido com as faces planas e as arestas apropriadas para servirem de guia para se traçar linhas retas; é o Símbolo da Perfeição, a de “24 polegadas”, lembra que devemos dividir e aproveitar o tempo: “8 horas” para o trabalho, “8 horas” para descansar e “8 horas” para instruir-se...
Todas essas coisas que a gente sabe sobre régua tem algum fundamento. Mas, quando recebi a tal régua observei que um dos lados era branco e o outro tinha um fundo verde (no primeiro momento achei estranho ser verde e não azul, afinal é comum os partidos políticos enfiarem a cor deles em tudo quanto é lugar --- em algumas cidades até lugares públicos que deviam ser pintados nas cores federais (como pontes etc) ganham as tonalidades da administração da prefeitura!), esse fundo verde (que logo em seguida percebi ser a cor do material do Gestar II) servia de aparato para uma série de fotos, fotos de momentos da formação do Gestar II quando ainda era eu uma das formadoras... eu estava na régua! Eu não porque não estou nela, mas há um registro meu na régua. Logo eu que até com régua faço linhas tortas!
A régua não tem 24 polegadas, também não tem 24 centímetros... A régua tem 20 cm. O que é estranho, porque se tem só 20 significa que alguma coisa está dividida de maneira estranha se formos tentar transformar esses 20 em proporções que de 8... Faltam 4 cm..
Então que faltam nessa régua os centímetros que são/permitem perfeição... os centímetros que permitiriam dividir 8 horas para trabalho, 8 para descanso e 8 para instruir-se... Mas, por outro lado, penso que a régua está “perfeita” (perdão pela ironia!) porque era destinada aos professores que participaram do Gestar II e lembro bem da carga horária desses professores, lembro bem.
A carga horária vivencial dos professores em questão não permite mesmo 8 horas de descanso, dirá 8 horas de instrução! Mas as horas de trabalho são grandes! Talvez tenha professor que trabalhe 12 horas por dia (sim, tem professor que trabalha no turno da manhã, no da tarde e ainda tem aulas no turno da noite!)... 20 – 12 = 8 ... São essas 8 horas “restantes” que o professor em questão usará para cuidar dos afazeres domésticos, cuidar dos filhos, do marido (ou esposa), preparar as aulas, corrigir as provas etc... Essa régua com 20 cm vem bem a calhar para traçarmos o perfil não perfeito das horas que o professor tem pra si. E tem muito professor que faz "milagre" com essas horas, mas os milagres beneficiam muito mais os outros do que a si mesmo...
Mas, que importância tem isso se é só uma régua? Acreditem, tem! Na régua os professores foram registrados em um momento de trabalho, porque instruir-se é trabalho, estudar é trabalho... agora restam aos professores às 8 horas de descanso! Sugiro então que cada um aumento 4 cm na sua régua, na régua que a gente tem dentro da gente, não nessa de papel. E, começo aumentando a minha para poder dizer que ao ver a régua revi momentos, muitos deles bons, mas também alguns doloridos.
Na régua, entre o 6º e o 8º centímetros, estão duas pessoas (Antônio e Claudinéia) que já não usam a régua da vida para medir nada, eles só aguardam, repousam, ou coisa melhor, que não sabemos porque ainda não estamos no mesmo plano. Não quero pensar que o único descanso que de fato existe é a morte, não quero porque não é assim que a concebo.
A régua, essa que recebi pelo correio, será para mim um marcador de páginas, afinal ela marca e registra momentos que marcaram a minha vida na formação em Marabá.
Cleiry de Oliveira Carvalho
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