sexta-feira, 1 de abril de 2011

"Leitura: Teoria & Prática" (para resenhar)

Leitura: Teoria & Prática
Roger Chartier (Tradução: Celene Margarida Cruz e João Wanderley Geraldi)
Revista Semestral da Associaçãoo do Brasil
Resenha – página 67 à 75 –
Crítica textual e história cultural — o texto e a voz, séculos XVI-XVII
Leituras pelo mundo
Os sentidos que os leitores dão aos textos são, na análise de textos literários, o objeto essencial da história literária e da crítica textual. A produção de significado e a inteligibilidade do texto estão na materialidade do mesmo e os sentidos de um texto são oriundos dos discursos e das estéticas da criação. Para uma abordagem histórica é necessário levar em conta o autor/leitor/texto (na sua materialidade) já que os sentidos não estão apenas no "funcionamento automático e impessoal da linguagem" e as
formas como os textos são consumidos produzem significação.
Para Chartier o estudo do texto tem que levar em conta sua materialidade porque as condições de produção de um texto são a maior fonte de sentido. O autor toma, por exemplo, as comédias produzidas de Molière em que o próprio autor não queria publicá-las (não só por questões financeiras) porque as mesmas perderiam o seu efeito. Molière acreditava que a declamação era produtora dos significados diluídos na teatralização do conteúdo e que a publicação não daria conta desses efeitos dramáticos.
Esse estudo resgata a importância da oralidade e da declamação em voz alta, como códigos de leitura sincrônicas e diacrônicas e, também elas, possuem uma história e uma sociologia. Chartier tem uma posição diferente da Estética da Recepção quanto ao que é história e sociologia, o leitor não é o mesmo, mas há pontos em comum. Para Chartier uma "história da literatura é então uma história das diferentes modalidades de apropriação dos textos" e ela tem que reconhecer as fronteiras literárias e definir a "literariedade" que constituem os repertórios de cada época visualizando as relações que tais obras apresentam com o mundo social.
Nesse resgate da oralidade Chartier valoriza a preocupação dos autores com sua produção e de como elas farão sentidos aos seus leitores mediante a publicação. Não só Ronsard, também Molière, suplicam ao Leitor que leia bem pronunciado, que eleve a voz, que traga para a leitura o jogo do teatro. Chartier ressalta que são muitos os textos antigos que não supõem um leitor solitário na sua materialidade, são textos produzidos para fazer efeitos e não a reflexão que na atualidade o leitor solitário busca nos textos.
Chartier também tem uma preocupação com as maneiras de produção dos textos, desde sua correção (muitas vezes o corretor altera o texto de acordo com sua leitura), pontuação e composição. Apenas em 1540 as regras de pontuação foram sistematizadas e, antes disso, os corretores eram os responsáveis por divisões e pausas necessárias à compreensão do texto impresso. O autor ainda expõe a problemática da pontuação retórica para a pontuação gramatical e realça a importância da oralidade nos discursos públicos. Ainda apresenta como fundamental a aprendizagem da leitura em voz alta e a utilização dos caracteres tipográficos que permitem a aprendizagem da duração das pausas, ênfases e alturas da voz.
Encerra apresentando a opinião de Quince que "identifica os efeitos de sentidos produzidos pela formas, sejam elas do escrito, do impresso ou da voz".



P.S.: resenha para uma das disciplinas feitas em 2005.

Cleiry de Oliveira Carvalho

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