domingo, 30 de agosto de 2009

Sobre POEMAS em PROSA

Caros cursistas,


como o gênero POEMA EM PROSA gerou algumas dúvidas de como trabalhá-lo na sala de aula, vou manter a discussão por aqui, até nosso próximo encontro onde poderemos pormenorizar nossas dúvidas e certezas!

Hoje vou inserir aqui um poema do Baudelaire e,

também, um endereço eletrônico sobre a teoria do poema em prosa, esse arquivo foi retirado da internet, mas é uma fonte confiável! Visitem o seguinte endereço eletrônico:

http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/5741.pdf
-->
A Perda da auréola
“O quê! Você por aqui, meu caro? Você, num lugar suspeito! Você bebedor de quintessências! Você o comedor de ambrósias? Em verdade, tenho de surpreender-me!
-Meu caro, você conhece meu pavor pelos cavalos e pelos carros. Ainda há pouco, enquanto eu atravessava a avenida, com grande pressa, e saltitava na lama por entre este caos movediço em que a morte chega a galope por todos os lados ao mesmo tempo, minha auréola, num movimento brusco, escorregou da minha cabeça para a lama da calçada. Não tive coragem de juntá-la. Julguei menos desagradável perder minhas insígnias do que deixar que me rompessem os ossos. E depois, pensei, há males que vêm para bem. Posso agora passear incógnito, praticar vis ações e me entregar à devassidão, como os simples mortais. E eis-me aqui, igualzinho a você, como vê!
-Você deveria ao menos mandar anunciar esta auréola, ou mandar reavê-la pelo comissário.
-Ora essa, não! Me sinto bem aqui. Só você me reconheceu. Aliás, a dignidade me entedia. E também penso com alegria que algum poeta ruim há de juntá-la e vesti-la impudentemente. Fazer alguém feliz, que prazer! E sobretudo um feliz que vai me fazer rir! Pense em X ou em Z, puxa! Que divertido vai ser!”.
"Petits poèmes en prose" (Le Spleen de Paris, XLVI).
-->
Esse poema serve para mostrar como as pessoas devem se adaptar à vida moderna da cidade para não sucumbirem à força prosaica do cotidiano que pode levar o indivíduo a perecer sob a roda das carroças. Entretanto, é nesse ambiente hostil que vigora a liberdade. Assim, a cidade pode tornar-se um ninho, um quase paraíso.
Neste poema, Baudelaire apresenta cenas exemplares da vida moderna. Um poeta atravessa um boulevard, um espaço que surgiu em Paris durante as reformas urbanas do Barão Haussmann, quando seu halo vai ao chão em meio ao lamaçal da rua reurbanizada que corta a metrópole. Foi no governo de Napoleão III que esse tipo de rua surgiu para dar conta do tráfego rápido. No poema acontece o encontro entre dois homens. O diálogo entre o homem do povo e o poeta acontece em um lugar público de reputação suspeita. Causa escândalo no homem ao ver o artista num lugar como aquele.
A auréola representa a pureza e o sagrado da arte, em que Baudelaire e outros de sua época acreditavam. Quando a auréola cai, cai a divindade da arte diante da rua, o espaço por excelência do mercado capitalista. A rua é o lugar onde não há mais o que esconder. É na rua que o poeta se surpreende ao vislumbrar a arte desnudada do seu véu. É necessário, pois, para fugir à roda das carroças, saltitar na lama, esse caos movediço, para fugir a uma morte prosaica que chega a galope por todos os lados ao mesmo tempo. Daí qualquer espaço urbano serve para fugir ao tráfego dos cavalos e carroças, levando o poeta a despir-se de preconceitos e medos.

Bom, vamos ao arquivo sobre TEORIA do POEMA EM PROSA.



Nenhum comentário:

Postar um comentário