segunda-feira, 30 de março de 2020

A resistência de um bibliotecário morto retido em uma universidade: Alegres memórias de um cadáver, de Roberto Gomes

v. 23, n. 1 (2020)
Temas de América Latina y el Caribe

Temas de América Latina y el Caribe
Cláudia Lorena Fonseca
Centro de Letras e Comunicação/Programa de pós-graduação em Letras,
Universidade Federal de Pelotas-UFPEL, Pelotas, RS, Brasil

Apresentação

Resistência é a palavra e literatura o suporte em A resistência de um bibliotecário morto retido em uma universidade: Alegres memórias de um cadáver, de Roberto Gomes, de Cleiry Carvalho, no qual a autora se dedica a refletir sobre o que significou politicamente para a educação o período da Ditadura militar no Brasil no âmbito universitário. Segundo Carvalho, o romance de Roberto Gomes “oferece ao leitor o ensejo de transpor a sátira fantasiosa dos espaços acadêmicos para uma crítica muito mais profunda da dinâmica social mais ampla das práticas costumeiras dentro e em torno da universidade”.

Fonte da revista: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/issue/view/944/showToc

Resumo


O romance Alegres memórias de um cadáver foi escrito e ambientado na Ditadura Militar e nos permite refletir sobre e interpretar o que esse período significou politicamente para a educação. Na obra figura uma universidade privada que prioriza o cálculo econômico (objetivando manter-se no mercado da educação) — ao ponto de os números do balanço anual se converterem em critério “acadêmico” para a manutenção de disciplinas no ou sua eliminação do currículo. A multiplicidade de focos narrativos utilizados por Roberto Gomes estabelece um ponto de vista que transcende qualquer perspectiva individual, de modo a estabelecer a própria universidade como protagonista. Assim, o romance oferece ao leitor o ensejo de transpor a sátira fantasiosa dos espaços acadêmicos para uma crítica muito mais profunda da dinâmica social mais ampla das práticas costumeiras dentro e em torno da universidade. E a volatilidade do mercado que circunscreve as atividades dessa universidade é análoga à volatilidade do bibliotecário cadáver, cujo corpo pervaga como um fantasma os espaços do campus. O autor fragmenta ao máximo a narração, de modo que o leitor possa enfim perceber que ela toda corresponde à própria universidade, ou a seu cadáver, aprendiz de fantasma. No romance, esse fantasma em potencial representa a universidade brasileira, com suas inversões hierárquicas, reformas sempre provisórias e superficiais, avaliações corporativistas e quantificadoras, discursos avançados e práticas regressivas, dilatação da burocracia, ilusões políticas e sua instrumentalização etc.

Palavras-chave


Roberto Gomes; ditadura militar; violência; política; universidade

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